Viajar

Estamos de mudança de Boa Vista-RR para Curitiba-PR. Pra aproveitar a oportunidade, resolvemos dar uma olhada no jeitão (antropologia, geografia, fotografia, o olhar das pessoas) dessa nossa América do Sul, fazendo a volta pela costa oeste do continente. Nossa "nave-mãe" nessa jornada será um Suzuki Grand Vitara (ano 2010). Estimamos a viagem em torno de 14 mil km, o que pretendemos percorrer em cerca de 40 dias.

Gostaríamos de compartilhar essa experiência com nossos amigos através deste blog, e, com isso, tornar essa jornada não apenas nossa, mas de todos que nos acompanharem. Convidamos vocês a viajar conosco, e a fazer comentários e sugestões.

Escrever sobre a viagem também nos ajuda a criar uma perspectiva de observadores da nossa própria história, o que é sempre interessante.

Assis, Mari e Thaís.

terça-feira, 14 de junho de 2011

44) Epílogo


            Como era de se esperar, passados mais de dois meses do término da viagem, fomos completamente envolvidos pelas demandas do cotidiano da nova fase – escola, trabalho, casa, tudo novo, tudo exigindo atenção.

            O curioso desse processo é a sensação de realidade e de tempo que envolve nossas vivências. Naqueles dias em que estávamos lá pras bandas do Equador, mais ou menos no meio da viagem, parecia que nunca iríamos chegar, e parecia que estávamos fora havia muito mais tempo do que apenas vinte e poucos dias... Agora aquele tempo denso e intenso parece ter se dissipado na eternidade. Quase como se não tivesse existido.

            O nosso dia-a-dia normal deve ser muito parecido com o de muitas pessoas: horários, compromissos, pequenos afazeres, sempre fazendo muitas coisas diferentes ao mesmo tempo. Uma das riquezas de vivências como a dessa viagem é ser capaz de enxergar esse contexto de uma forma um pouquinho diferenciada: a gente sabe que o mundo não é só aqui onde estamos. De alguma forma toda nossa vida muda um pouquinho de referencial.

            Viajar é um negócio ambíguo. Como tudo na vida, não é de forma alguma uma atividade absoluta. Não acho que seja maravilhoso, onírico, surreal, nem quero deixar aqui essa impressão. Muito pelo contrário: é trabalhoso, é desconfortável (por mais que se procure faze-la confortável), é arriscado, e, se não cuidar, pode facilmente perder o sentido, como tudo que fazemos nesse nosso pequeno mundo. Mas é lógico que, bem vivido, pode também ser quase mágico, altamente transformador, e certamente muito gratificante.

            O bacana de viajar é essa mexida nos nossos sentimentos e nas nossas certezas. É aquela apreensão antes de partir, os sufocos do caminho, as histórias que a gente ouve, e, talvez mais do que tudo, as lembranças que ficam.

            Houve um tempo em que eu tinha um certo conflito com essa questão de apreciar mais as lembranças do que os momentos vividos. Achava que não fazia sentido curtir mais aquelas do que esses. Hoje acho natural que seja assim, afinal as lembranças têm a grande vantagem da certeza de que tudo deu certo, do doce sabor apenas dos momentos bons. A realidade é sempre mais pesada, mais difícil, mais fugidia.

            Gratidão – é o sentimento que tenho, e gostaria de expressar, por ter feito da idéia da viagem, história. Gratidão à vida, aos seres de luz que nos acompanharam, às energias que fluem por esse nosso pequeno cosmo e à minha querida “tripulação”, a quem tudo devo.

            Que possamos sempre ser capazes de ir longe, e permanecer humildes.

           

sábado, 12 de março de 2011

43) Vivências e aprendizados


Alguns aprendizados, auto-críticas, experiências vividas, opiniões e agradecimentos:



Orientação

            Usamos na viagem o GPS Garmin Zumo 660 – um robusto GPS feito mais especificamente para uso em motos.

            Sei que esse negócio de GPS automotivo já não é assim tão novo, mas para mim ainda é. E (quando funciona) realmente é um equipamento fantástico. Parece coisa de ficção científica. Apelidamos o nosso radarzinho hi-tech de “Zuma”, em homenagem à sensual voz feminina que, pacientemente, nos indicava a direção a seguir.

A gente se adapta rápido às inovações tecnológicas e, uma vez adaptados, tende a não valorizar mais esses gadgets modernos. Mas o fato é que o GPS, particularmente numa viagem como essa nossa, é uma maravilha. A sensação de segurança quanto à orientação que ele nos proporciona é simplesmente incrível. Em várias ocasiões ele nos tirou de algumas enrascadas e em muitas outras nos facilitou tremendamente o trabalho de achar hotéis e outras direções, particularmente nas cidades maiores.

            O problema é quando não funciona. Teoricamente era pra ter todos os mapas da América do Sul no cartão de memória – pelo menos essa foi a promessa do site no qual adquirimos o tal cartão -, mas na prática não foi bem assim. Na Venezuela ele funcionou muito bem, já na Colômbia e no Equador os dados disponíveis foram bem precários, e no Peru, Chile e Argentina o funcionamento voltou a ser bom. Segundo a resposta da empresa na qual adquiri o cartão de memória o problema era a atualização dos mapas (não me convenci muito, mas vá lá)... Talvez tenha faltado também um pouquinho de estudo e conhecimento das intimidades dessa nova tecnologia... o que vai ficar pra próxima.

            É bom dizer também que o GPS sozinho não resolve todos os problemas. É uma ferramenta a mais e, como disse, é fantástica, mas nada substitui o senso de orientação, o mapa sempre por perto e a velha e boa regra de perguntar às pessoas do local sobre os lugares e direções. Na Colômbia e no Equador usamos praticamente apenas mapa, placas e conversas com os locais, e não tivemos maiores problemas.

            Vale dizer também que achar-se, de forma geral, na viagem, não representou grande problema. O que dá mais trabalho e um pouquinho de aborrecimento são sempre as grandes cidades.



Grana

            Uma questão sempre presente nas dúvidas das pessoas sobre viagens independentes aqui pela nossa América do Sul é como levar e usar o dinheiro – em espécie, cartão de crédito ou ‘cartão de viagem’ (a versão moderna dos antigos travellers cheques).

            Por opção pessoal, procurei levar a maior parte (uns 60%, talvez) do que imaginávamos que gastaríamos em espécie – dólares americanos. A idéia era não depender da aceitabilidade dos cartões de crédito e evitar as tais taxas de compras no exterior e a flutuação da taxa de câmbio que as administradoras desses cartões adotam.

            Mesmo assim acabamos fazendo parte dos gastos (em torno de 10%) com cartão de crédito (VISA). Quanto à aceitação dessa forma de pagamento, na maior parte dos estabelecimentos realmente não há nenhum problema, mas há também vários locais que ainda não trabalham com os cartõezinhos... Por isso é sempre bom ter alternativas.

            Usamos também o “Visa Travel Money” (nos cerca de 30% restantes dos nossos gastos) – um cartão da bandeira Visa no qual deposita-se a quantia desejada no país de origem, em reais, e saca-se na moeda local em qualquer parte do mundo, ao câmbio oficial local, pagando-se uma taxa por cada saque. Revelou-se uma forma muito prática de sacar dinheiro, pois dispensa a procura por casas de câmbio ou cambistas, mas, logicamente, depende do acesso a um caixa automático desses ligados às grandes bandeiras, o que normalmente não foi difícil achar. A grande vantagem sobre o dinheiro em espécie é a segurança de não precisar carregar as notinhas consigo, e sobre o cartão de crédito a economia daquelas taxas às vezes surpreendentes que aparecem na fatura e o controle mais rígido e preciso de quanto se gastou e quanto se tem.



Segurança

            Outro tema sempre presente na mente das pessoas quando se fala em viagens pela América do Sul.

            Bem, o que podemos dizer de mais certo sobre isso é que (felizmente) não tivemos nenhum problema nesse sentido. Nem problema, nem susto ou situação de aperto. Mas a gente sabe que os nossos vizinhos sul americanos não são nenhum paraíso em termos de segurança pública...

            De forma geral, tomamos os cuidados básicos e tão conhecidos aqui pelo nosso Brasil – evitar andar à noite, seja na estrada, seja nas cidades; estar sempre atento; evitar lugares com aspecto suspeito; procurar ser discreto; e coisas desse tipo.

            Na Colômbia, que era a grande preocupação nesse quesito, a sensação de segurança foi redobrada, em virtude da forte presença da Polícia e do Exército nas estradas... Bem, na realidade, isso também era motivo de uma certa preocupação, pois onde tem muito policiamento é porque também tem muito motivo para tal, não é?
          


Seguro Viagem

            Fizemos, por precaução, um seguro viagem antes de partir, e, em virtude do problema de saúde que a Thaís teve em Quito, no Equador, podemos dizer que foi muito útil. Nessas horas é altamente confortador não precisar se preocupar com quanto vai ficar a conta.

            O seguro viagem cobre despesas médicas, odontológicas e algumas outras possíveis adversidades comuns em viagens – até o limite contratado, logicamente.

            O que fizemos era da “World Plus Travel Assurance”, e nos atendeu muito bem quando precisamos.



Suzuki Grand Vitara

            O Grand Vitara revelou-se um carro extremamente confiável, confortável e valente. Não apresentou absolutamente nenhum problema.

            Vale dizer que é um carro com tração 4x4 permanente (o que transmite uma grande sensação de segurança e de ter o carro na mão) , além das opções de bloqueio de diferencial e um ajuste semelhante à marcha reduzida tradicional dos jeeps (opções essas que não foi preciso usar). Ou seja, não é apenas um carrão com cara de 4x4.

            Talvez a única ressalva fique por conta do desempenho apenas moderado do motor, apesar de que, a bem da verdade, é um desempenho bastante bom. Seria melhor se fosse um seis cilindros, mas aí já é outra história.

            É válido comentar também que, ainda que pareça que no Brasil o Grand Vitara não tenha uma presença expressiva nas ruas, por onde passamos vimos muitos desse modelo, particularmente no Equador e no Chile, o que, de certa forma, demonstra a força da marca e desse modelo especificamente, além de nos transmitir certa tranqüilidade em termos de assistência técnica (que felizmente não precisamos).



Fronteiras

            Esse é outro tema de freqüente (e pertinente) preocupação de quem pensa em fazer uma viagem semelhante. Em primeiro lugar é bom que se diga que fronteiras (pelo menos essas seis por que passamos) não são um bicho de sete cabeças, e que os procedimentos aduaneiros (desde qeu se esteja com os documentos em ordem) não são um jogo de sorte ou azar.

            De forma geral todas têm um “modus operandi” semelhante: carimbos, formulários a serem preenchidos, verificação de documentação, perguntas básicas e o tratamento burocrático e, via de regra, pouco preocupado em ser cortês.

            Não tivemos nenhum contra-tempo mais sério em nenhuma das fronteiras. Em média levamos cerca de duas horas para atender às exigências de saída e de entrada nas aduanas.

            A documentação exigida é, basicamente: passaporte, carteira de vacinação internacional contra febre amarela (imprescindível na Venezuela), documento do carro no nome do condutor (se não estiver no nome do condutor pode dar um pouco mais de trabalho), e carteira de habilitação (CNH) do condutor (em nenhum lugar nos pediram a tal “permissão internacional para dirigir”, que eu também tinha).

            O que normalmente dá um pouco mais de trabalho é regularizar a entrada do carro. Em todos os países foi necessário fazer algum tipo de seguro temporário contra terceiros (para cobrir custos de um eventual acidente com um cidadão local), mas cada país tem um procedimento diferente com relação a isso. O mais complicado foi na Colômbia, que nos tomou uma tarde inteira para resolver. No Chile e na Argentina esse procedimento é coberto pela conhecida “carta verde”. No nosso caso até tínhamos esse documento, mas, em virtude do atraso do nosso cronograma, quando chegamos nesses países o período de validade já havia expirado (porque havíamos contratado essa cobertura ainda no Brasil, antes da viagem). Felizmente ninguém nos cobrou o tal documento.



Hospedagem

            Fizemos toda a viagem sem fazer nenhuma reserva em hotel. Optamos por fazer assim para ter mais flexibilidade e para não ter o compromisso de chegar em tal lugar em tal dia. O único lugar que tivemos problema de não achar hotel por falta de reserva foi no nosso primeiro dia no Peru, mas também por motivo plenamente razoável: era o dia 31 de dezembro num balneário de praia altamente turístico para a região.

            Entretanto esse esquema “easy rider” tem o seu preço, que á a incomodação de, ao chegar num lugar, ter que procurar um hotel decente meio que a partir do nada (às vezes apoiados apenas em indicações de guias ou do GPS).

            De certa forma também, nada como chegar na frente de um hotel e dar uma olhada no aspecto do prédio e do local. Com o tempo ficamos craques em avaliar a qualidade dos hotéis apenas nessa primeira olhada, o que, virtualmente (pela nossa magnânima internet), nem sempre é possível.

            Vale dizer também que ficamos em hotéis de todos os padrões de qualidade, dos excelentes aos sofríveis – esses, logicamente, por absoluta falta de opção. De forma geral achar boa acomodação não foi grande problema (o GPS ajuda muito nessa tarefa).



Alimentação

            Somos meio conservadores nesse quesito... Experiências e ousadias gastronômicas não costumam fazer parte da nossa rotina de viagens. Assim, na realidade, não temos muito o que comentar sobre isso.

            Talvez seja útil dizer, entretanto, que achar bons restaurantes nesse nosso roteiro não é exatamente uma tarefa fácil, com raras exceções. Os piores países para comer decentemente são a Venezuela, a Colômbia e o Peru. No Equador é fácil encontrar excelentes opções em Quito; fora isso, o padrão volta ao normal. E Argentina e Chile também são bem “civilizados” nesse aspecto, bastando um pouquinho de discernimento para não entrar em furada.

            Por várias vezes optamos por fazer nossa própria comida a procurar restaurantes, e essas ocasiões foram sempre muito divertidas e bem aproveitadas. Era o contra-ponto da situação.



Planejamento

            Esse é outro tema que costuma ser meio misterioso. Como disse na primeira postagem do blog (“Prólogo”), acho que é preciso tomar cuidado para essa tarefa não virar uma neurose, um labirinto ou um bicho de sete cabeças.

            Penso que o planejamento deve ter medida. E a medida que aprecio para essa questão é aquela que prevê, sobretudo, as condições de realização da ideia, muito mais do que o delineamento da viagem em si. Ou seja, o planejamento deve prever e dar suporte às necessidades, digamos, operacionais da viagem, e não necessariamente detalhes e dados que podem ser (e é até melhor que sejam) “descobertos” durante a viagem.

            Seguindo esse conceito, nosso planejamento foi, na realidade, bastante simples: tínhamos o ponto de partida, o ponto de chegada, uma ideia de roteiro a ser seguido (que foi modificado algumas vezes no decorrer da viagem), o tempo máximo que podíamos estar “voando”, os recursos financeiros que imaginamos ser suficientes, a documentação que sabíamos que seria necessária e alguns dados (informações) sobre os países e roteiro a serem percorridos. E é isso.

            Fazendo uma auto-crítica sincera, acho que esse esquema de planejamento funcionou bastante bem e atendeu ao que pretendíamos. Sobretudo por ter deixado espaço para a viagem acontecer in loco, o que é o mais legal.


Agradecimentos

            Apesar de termos feito a viagem de forma solo - apenas nossa família - , contamos com o apoio de algumas pessoas que muito nos ajudaram nessa empreitada, e a quem gostaríamos de agradecer do fundo do nosso coração:

·        Ao Marcelo e à Iorlene, casal de amigos de Boa Vista/RR, que foi como um anjo de inspiração e de incentivo pra gente. Eles fizeram uma viagem bastante parecida com essa (de Boa Vista a Curitiba), de carro, com a filha de cerca de 9 anos de idade, e acompanhados por um outro carro com amigos, no final de 2009 e começo de 2010, e nos passaram valiosas informações e estímulo na fase de planejamento e preparativos da viagem. Apesar de termos nos encontrado poucas vezes em Boa Vista, ficou uma amizade muito espontânea e muito sincera que espero que perdure no tempo.  Nosso muito obrigado a vocês.

·        Ao meu irmão Gilson, que nos acompanhou o tempo todo através do nosso localizador pessoal SPOT e, com isso, esteve atento à nossa segurança à distância, e esteve pronto e disposto a nos ajudar naquela fase bastante difícil em que a Thaís esteve no hospital em Quito, no Equador. Nosso muito obrigado a você também.

·       Aos nossos amigos de Brasília: Silva Pinto e Gilce, pelo apoio, acompanhamento e preocupação constantes, e pela ajuda especial dos contatos e informações levantadas quando da internação da Thaís lá em Quito. Inestimável apoio no momento certo. Nosso muito obrigado a vocês também.

·        E a todos que nos acompanharam e torceram para que tudo desse certo, tanto aos que nos mandaram mensagens de incentivo e apoio quanto aos que nos seguiram apenas no silêncio desse nosso mundo virtual, nosso muito obrigado também a vocês.



Força Sempre



quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

42) 17 Jan 2011 - A hora de chegar

17 Jan 11
43º dia
De Quatro Pontes a Curitiba (PR)
560 km

            Apesar do dia tranqüilo ontem, hoje, particularmente, senti o cansaço acumulado e o desgaste dessa vida de estrada. Mas também não fazia mais muita diferença...

            Tocamos o solo em Curitiba às seis da tarde, depois de uma viagem sem nenhuma pressa e com muitas paradas.

            Muito bom chegar ao nosso objetivo final, mas, como disse no dia em que chegamos ao Brasil, a sensação de chegada mesmo foi vivenciada naquele dia. A chegada de hoje teve um tom mais de preocupação e de ansiedade pela fase que se inicia em seguida – todo o processo de instalação e de adaptação a uma nova cidade e a novas demandas - do que propriamente de comemoração ou de alívio. É como as coisas são.

            Hoje, na estrada, curtindo aquele visual bucólico e aprazível dos campos do Paraná – plantações e araucárias a perder de vista – a Mari comentou que acha mais bonita essa paisagem do que aquela aridez dos desertos do Peru e do Chile. E eu fiquei pensando no quanto de conceito existe nessa nossa sensação do belo...

            Talvez o simples fato do contraste e da raridade da oportunidade de estar em contato com certos ambientes nos cause essa sensação de admiração e de perplexidade. Ou será que os povos que vivem nessas áreas desérticas têm a mesma sensação que nós que as vemos pela primeira vez?...

            É verdade, os campos verdes e cheios de vida do interior do Paraná são mesmo muito bonitos. Talvez só não sejam mais bonitos por serem tão comuns, de tão fácil acesso, tão próximos do nosso dia-a-dia.

            É mais ou menos o que acontece com as Cataratas do Iguaçu. O visual em si é deslumbrante, mas o contexto dos bastidores é artificializado demais. Não tem comparação, por exemplo, com o ambiente do Monte Roraima – totalmente intocado, distante, isolado, difícil.

            A sensação de beleza tem diversos componentes. O visual conta muito, mas não é só isso.

            Bem, agora então só nos resta voltar lentamente ao mundo cotidiano das obrigações e compromissos da nossa vida urbana de trabalho e estudo. E não vou negar que essa rotina não deixa de ter o seu atrativo.

            Mas, hoje, olhamos para um mapa da América do Sul de forma totalmente diferente. Enxergamos e conseguimos entender o que significam aquelas fronteiras, aquelas estradas, aquele escurinho que representa a Cordilheira dos Andes...

            E nem tudo fica registrado em fotos. O cheiro gostoso de madeira velha da igreja da praça central de San Pedro de Atacama, o olhar dos meninos vendendo melão à beira da estrada na Argentina, o andar sem pressa das pessoas na pequena praça de um vilarejo no interior da Colômbia, a timidez das crianças pastoreando os rebanhos de ovelhas nas montanhas do Equador, a sensação de desolação e de quietude dos desertos do Peru... Sensações e lembranças que vão ficar ecoando nos nossos dias, em meio aos afazeres e apelos que certamente virão.

            É assim. O tempo presente das viagens é apenas uma pequena parte dessas vivências. As lembranças, as fotos, as sensações, são o legado que fica depois, e são imensuráveis.



Força Sempre



P.S: Conforme prometi há alguns dias, assim que conseguir escrever, vou postar um texto com alguns dados práticos e alguns resumos da viagem, que podem, eventualmente, servir a alguém interessado especificamente no tema, assim como as fotos dos últimos dias. Valeu!

41) 16 Jan 2011 - Vida Simples

16 Jan 11
42º dia
De Foz do Iguaçu a Quatro Pontes (PR)
240 km (mais ou menos)





            A idéia hoje era sair cedo pra Curitiba, mas ontem recebemos um convite tentador do Ezidio Jr, primo da Mari, de fazer um vôo panorâmico de helicóptero sobre as Cataratas do Iguaçu hoje pela manhã, através de mais uma cortesia conseguida por ele.

            Assim, fizemos o vôo e apreciamos a vista aérea da região. O passeio dura em torno de dez minutos (o preço normal é de cento e oitenta reais por pessoa). Muito bonito, mas o passeio de barco é mais natural e mais divertido.

            Acabamos saindo de Foz por volta das onze e meia da manhã e resolvemos fazer mais uma alteração nos planos. Decidimos fazer uma visita a um irmão da Mari que mora no interior do Paraná, numa área rural próxima do município de Quatro Pontes.

            E é interessante fazer aqui um breve registro do estilo de vida desse simpático casal – Neivo e Preta. Os dois moram numa casa que eles mesmos construíram – e não no sentido que se costuma dizer por aí, mas no sentido literal de fazer com as próprias mãos. Os dois filhos se casaram há poucos anos e já saíram de casa. Vivem das habilidades de cultivar a terra – uva, soja, milho – e da criação de gado, suínos, galinhas, etc. Não têm horário de trabalho. Nem feriados e finais de semana pra se desligar do seu “negócio”. E estão o tempo todo atentos às viradas do tempo – ventania, granizo, geada...

            O local do seu sítio é muito bonito e silencioso, e têm, ao alcance das mãos, frutas e verduras que dão por ali.

            Certamente eles também têm o seu “contexto”, mas vou lhes dizer: é admirável esse estilo de vida simples, livre, silencioso, desligado das modernices desse nosso mundo urbano meio arrogante e convencido demais de suas qualidades.

            Dormimos super bem, embalados por uma boa conversa fiada e o vinho da casa – da casa mesmo, feito lá.

Força Sempre




As Cataratas do Iguaçu vistas de cima.






















































Pequeno vídeo do passeio de helicóptero.




Thaís no parreiral no sítio do seu tio Neivo.








terça-feira, 18 de janeiro de 2011

40) 15 Jan 2011 - Cataratas do Iguaçu

15 Jan 11
41º dia
Foz do Iguaçu





            Que descansar que nada! Ratificando o nosso espírito irrequieto, metemo-nos hoje no circuito turístico de Foz do Iguaçu. De manhã fomos visitar o Parque das Aves – um muito bem cuidado e muito bonito zoológico de aves e alguns répteis. Muito bacana poder estar lado a lado com espécies raras e belíssimas de aves, e num ambiente muito próximo ao natural.

            Na sequência fomos ao Parque Nacional do Iguaçu, visitar as famosas Cataratas. O cenário realmente é deslumbrante, mas... Estivemos (eu e Mari) nesse monumento natural da humanidade há mais de dez anos. Lembro-me que naquela época era fácil chegar aos mirantes das Cataratas e às diversas trilhas em volta das quedas. Hoje existe uma mega-indústria do turismo em volta do espetáculo natural. Começa-se pagando a módica quantia de vinte e dois reais por pessoa (brasileiro, adulto) para se ter acesso ao Parque. Aí embarca-se em vistosos ônibus que levam os turistas aos diversos pontos de interesse da área. A cada cem metros das trilhas há um quiosquezinho vendendo água, refrigerante e itens afins – por preços igualmente módicos, logicamente. Não se pode afirmar, apenas por rebeldia, que o esquema é pejorativo. Tudo é muito bem organizado, limpo, sinalizado. Apenas é também muito exploratório, muito “mega-estrela”, muito turismo de massa. Mas tirando esses detalhes, é um passeio que vale muito a pena, com certeza.

            Aproveitando a “teoria do Jaques” – já que estou aqui... – fizemos também um passeio muito legal de barco – infláveis com dois motores de popa de 150 hp – pelo rio até embaixo de algumas cataratas, nas quais tomamos um gostoso e forçado banho. Visual ainda mais deslumbrante e alta animação ao enfrentar as nervosas corredeiras do Rio Iguaçu a bordo de tão farta potência.

            Tivemos a generosa interseção, nesse tour, do primo da Mari – Ezidio Oro Júnior – que mora em Foz e, como biólogo, nos deu todas as dicas do que fazer e de como fazer, tendo inclusive conseguido a entrada em algumas atrações como cortesia para nós três. Nosso agradecimento especial a ele e ao seu pai, Sr Ezídio Oro, que também nos assistiu na reserva do hotel em que nos hospedamos.

            Certamente o passeio valeu, mas à noite o cansaço bateu forte, anunciando que estamos realmente precisando de uma parada.

            Mas amanhã é outro dia.

Força Sempre



Parque das aves.




Parece pintura, mas é real.




A Mari interagindo com o bichinho.




"Natureza em estado de natureza".




O Sr Tucano totalmente à vontade com a situação.




Natureza espetacular.




A Thaís novamente exercitando suas habilidades de destemor com os bichinhos.




As famosas Cataratas.




As Cataratas de outro ângulo.




Outro ponto de vista.




Bem perto do turbilhão de água.




De dentro do barco.




Um dos barcos do passeio por dentro do rio.




Mari e Thaís curtindo a "aventura".




Chegando bem perto.




Fim de tarde no Rio Iguaçu.




Em um dos mirantes.




Família reunida para um auto-retrato.




A Thaís no Parque das Aves.




Parque das Aves.




sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

39) 14 Jan 2011 - Pátria

14 Jan 11
40º dia
De Corrientes – Argentina a Foz do Iguaçu – Brasil
640 km






            Por mais que o conceito de Pátria também possa ser relativizado, como tudo, o fato é que a profundidade e a abrangência da cultura nacional de cada um são maiores e mais fortes do que às vezes imaginamos (ou não imaginamos).

            Essa ligação com as pessoas, com a língua, com o jeito de ser da nossa gente, com os nossos defeitos (que conhecemos e criticamos tanto), com nossas riquezas (que reconhecemos tão pouco), com nossa história... Essa ligação transcende nosso racionalismo. É um enlace de alma.

            Na volta da viagem ao Nepal, em 96, passei umas duas semanas na Inglaterra, uma das quais em Londres, e tive a oportunidade de conhecer vários brasileiros que estavam lá naquele esquema de trabalhar duro pra juntar grana pra um dia voltar para o Brasil. E uma percepção que me marcou foi o olhar e o jeito de falar comum a essas pessoas. Todos transmitiam a mesma sensação de falta, de uma lacuna aberta, de explícita saudade e nostalgia, de um objetivo comum de um dia voltar pra sua terra. Muito raro encontrar alguém sem esses sintomas.

            Viajar não é só ir e conhecer outros lugares. É também, e, quem sabe, sobretudo, não estar no lugar de sempre. O valor das viagens se destaca pelo contraste, pelo pano de fundo que se cria.

            Sentir esse prazer de retornar ao nosso país é indizível. É único. E não é apenas por questões práticas ou por conveniência. É afetivo mesmo.

           
            De certa forma a viagem se realizou com a nossa chegada hoje aqui em Foz do Iguaçu. Pelo menos essa é a sensação que tomou conta da gente hoje. A idéia agora é fazer uma “parada técnica” aqui amanhã – descansar, dar uma cuidado do carro, assimilar um pouquinho esses dias intensos – e prosseguir pra Curitiba no dia seguinte (domingo), onde, de acordo com a proposta inicial, vamos fazer, digamos assim, a chegada oficial da viagem.

            Depois disso pretendo fazer uma postagem com alguns tópicos mais práticos e alguns resumos, a título de ilustração e informação a quem se interessar pelo assunto.

É isso.

Força Sempre



Ponte sobre o Rio Paraná, entre Corrientes e Resistência, na Argentina.




Thaís no ponto exato da fronteira entre Argentina e Brasil, na ponte sobre o Rio Iguaçu.




Enfim em casa...




Rio Iguaçu: à esquerda o Brasil, à direita a Argentina.




Curitndo um pouquinho o momento da chegada.




Placa de boas vindas ao Brasil (meio caidinha, não?).




Aduana de saída da Argentina.




Mais um desenho da Thaís.