Alguns aprendizados, auto-críticas, experiências vividas, opiniões e agradecimentos:
Orientação
Usamos na viagem o GPS Garmin Zumo 660 – um robusto GPS feito mais especificamente para uso em motos.
Sei que esse negócio de GPS automotivo já não é assim tão novo, mas para mim ainda é. E (quando funciona) realmente é um equipamento fantástico. Parece coisa de ficção científica. Apelidamos o nosso radarzinho hi-tech de “Zuma”, em homenagem à sensual voz feminina que, pacientemente, nos indicava a direção a seguir.
A gente se adapta rápido às inovações tecnológicas e, uma vez adaptados, tende a não valorizar mais esses gadgets modernos. Mas o fato é que o GPS, particularmente numa viagem como essa nossa, é uma maravilha. A sensação de segurança quanto à orientação que ele nos proporciona é simplesmente incrível. Em várias ocasiões ele nos tirou de algumas enrascadas e em muitas outras nos facilitou tremendamente o trabalho de achar hotéis e outras direções, particularmente nas cidades maiores.
O problema é quando não funciona. Teoricamente era pra ter todos os mapas da América do Sul no cartão de memória – pelo menos essa foi a promessa do site no qual adquirimos o tal cartão -, mas na prática não foi bem assim. Na Venezuela ele funcionou muito bem, já na Colômbia e no Equador os dados disponíveis foram bem precários, e no Peru, Chile e Argentina o funcionamento voltou a ser bom. Segundo a resposta da empresa na qual adquiri o cartão de memória o problema era a atualização dos mapas (não me convenci muito, mas vá lá)... Talvez tenha faltado também um pouquinho de estudo e conhecimento das intimidades dessa nova tecnologia... o que vai ficar pra próxima.
É bom dizer também que o GPS sozinho não resolve todos os problemas. É uma ferramenta a mais e, como disse, é fantástica, mas nada substitui o senso de orientação, o mapa sempre por perto e a velha e boa regra de perguntar às pessoas do local sobre os lugares e direções. Na Colômbia e no Equador usamos praticamente apenas mapa, placas e conversas com os locais, e não tivemos maiores problemas.
Vale dizer também que achar-se, de forma geral, na viagem, não representou grande problema. O que dá mais trabalho e um pouquinho de aborrecimento são sempre as grandes cidades.
Grana
Uma questão sempre presente nas dúvidas das pessoas sobre viagens independentes aqui pela nossa América do Sul é como levar e usar o dinheiro – em espécie, cartão de crédito ou ‘cartão de viagem’ (a versão moderna dos antigos travellers cheques).
Por opção pessoal, procurei levar a maior parte (uns 60%, talvez) do que imaginávamos que gastaríamos em espécie – dólares americanos. A idéia era não depender da aceitabilidade dos cartões de crédito e evitar as tais taxas de compras no exterior e a flutuação da taxa de câmbio que as administradoras desses cartões adotam.
Mesmo assim acabamos fazendo parte dos gastos (em torno de 10%) com cartão de crédito (VISA). Quanto à aceitação dessa forma de pagamento, na maior parte dos estabelecimentos realmente não há nenhum problema, mas há também vários locais que ainda não trabalham com os cartõezinhos... Por isso é sempre bom ter alternativas.
Usamos também o “Visa Travel Money” (nos cerca de 30% restantes dos nossos gastos) – um cartão da bandeira Visa no qual deposita-se a quantia desejada no país de origem, em reais, e saca-se na moeda local em qualquer parte do mundo, ao câmbio oficial local, pagando-se uma taxa por cada saque. Revelou-se uma forma muito prática de sacar dinheiro, pois dispensa a procura por casas de câmbio ou cambistas, mas, logicamente, depende do acesso a um caixa automático desses ligados às grandes bandeiras, o que normalmente não foi difícil achar. A grande vantagem sobre o dinheiro em espécie é a segurança de não precisar carregar as notinhas consigo, e sobre o cartão de crédito a economia daquelas taxas às vezes surpreendentes que aparecem na fatura e o controle mais rígido e preciso de quanto se gastou e quanto se tem.
Segurança
Outro tema sempre presente na mente das pessoas quando se fala em viagens pela América do Sul.
Bem, o que podemos dizer de mais certo sobre isso é que (felizmente) não tivemos nenhum problema nesse sentido. Nem problema, nem susto ou situação de aperto. Mas a gente sabe que os nossos vizinhos sul americanos não são nenhum paraíso em termos de segurança pública...
De forma geral, tomamos os cuidados básicos e tão conhecidos aqui pelo nosso Brasil – evitar andar à noite, seja na estrada, seja nas cidades; estar sempre atento; evitar lugares com aspecto suspeito; procurar ser discreto; e coisas desse tipo.
Na Colômbia, que era a grande preocupação nesse quesito, a sensação de segurança foi redobrada, em virtude da forte presença da Polícia e do Exército nas estradas... Bem, na realidade, isso também era motivo de uma certa preocupação, pois onde tem muito policiamento é porque também tem muito motivo para tal, não é?
Seguro Viagem
Fizemos, por precaução, um seguro viagem antes de partir, e, em virtude do problema de saúde que a Thaís teve em Quito, no Equador, podemos dizer que foi muito útil. Nessas horas é altamente confortador não precisar se preocupar com quanto vai ficar a conta.
O seguro viagem cobre despesas médicas, odontológicas e algumas outras possíveis adversidades comuns em viagens – até o limite contratado, logicamente.
O que fizemos era da “World Plus Travel Assurance”, e nos atendeu muito bem quando precisamos.
Suzuki Grand Vitara
O Grand Vitara revelou-se um carro extremamente confiável, confortável e valente. Não apresentou absolutamente nenhum problema.
Vale dizer que é um carro com tração 4x4 permanente (o que transmite uma grande sensação de segurança e de ter o carro na mão) , além das opções de bloqueio de diferencial e um ajuste semelhante à marcha reduzida tradicional dos jeeps (opções essas que não foi preciso usar). Ou seja, não é apenas um carrão com cara de 4x4.
Talvez a única ressalva fique por conta do desempenho apenas moderado do motor, apesar de que, a bem da verdade, é um desempenho bastante bom. Seria melhor se fosse um seis cilindros, mas aí já é outra história.
É válido comentar também que, ainda que pareça que no Brasil o Grand Vitara não tenha uma presença expressiva nas ruas, por onde passamos vimos muitos desse modelo, particularmente no Equador e no Chile, o que, de certa forma, demonstra a força da marca e desse modelo especificamente, além de nos transmitir certa tranqüilidade em termos de assistência técnica (que felizmente não precisamos).
Fronteiras
Esse é outro tema de freqüente (e pertinente) preocupação de quem pensa em fazer uma viagem semelhante. Em primeiro lugar é bom que se diga que fronteiras (pelo menos essas seis por que passamos) não são um bicho de sete cabeças, e que os procedimentos aduaneiros (desde qeu se esteja com os documentos em ordem) não são um jogo de sorte ou azar.
De forma geral todas têm um “modus operandi” semelhante: carimbos, formulários a serem preenchidos, verificação de documentação, perguntas básicas e o tratamento burocrático e, via de regra, pouco preocupado em ser cortês.
Não tivemos nenhum contra-tempo mais sério em nenhuma das fronteiras. Em média levamos cerca de duas horas para atender às exigências de saída e de entrada nas aduanas.
A documentação exigida é, basicamente: passaporte, carteira de vacinação internacional contra febre amarela (imprescindível na Venezuela), documento do carro no nome do condutor (se não estiver no nome do condutor pode dar um pouco mais de trabalho), e carteira de habilitação (CNH) do condutor (em nenhum lugar nos pediram a tal “permissão internacional para dirigir”, que eu também tinha).
O que normalmente dá um pouco mais de trabalho é regularizar a entrada do carro. Em todos os países foi necessário fazer algum tipo de seguro temporário contra terceiros (para cobrir custos de um eventual acidente com um cidadão local), mas cada país tem um procedimento diferente com relação a isso. O mais complicado foi na Colômbia, que nos tomou uma tarde inteira para resolver. No Chile e na Argentina esse procedimento é coberto pela conhecida “carta verde”. No nosso caso até tínhamos esse documento, mas, em virtude do atraso do nosso cronograma, quando chegamos nesses países o período de validade já havia expirado (porque havíamos contratado essa cobertura ainda no Brasil, antes da viagem). Felizmente ninguém nos cobrou o tal documento.
Hospedagem
Fizemos toda a viagem sem fazer nenhuma reserva em hotel. Optamos por fazer assim para ter mais flexibilidade e para não ter o compromisso de chegar em tal lugar em tal dia. O único lugar que tivemos problema de não achar hotel por falta de reserva foi no nosso primeiro dia no Peru, mas também por motivo plenamente razoável: era o dia 31 de dezembro num balneário de praia altamente turístico para a região.
Entretanto esse esquema “easy rider” tem o seu preço, que á a incomodação de, ao chegar num lugar, ter que procurar um hotel decente meio que a partir do nada (às vezes apoiados apenas em indicações de guias ou do GPS).
De certa forma também, nada como chegar na frente de um hotel e dar uma olhada no aspecto do prédio e do local. Com o tempo ficamos craques em avaliar a qualidade dos hotéis apenas nessa primeira olhada, o que, virtualmente (pela nossa magnânima internet), nem sempre é possível.
Vale dizer também que ficamos em hotéis de todos os padrões de qualidade, dos excelentes aos sofríveis – esses, logicamente, por absoluta falta de opção. De forma geral achar boa acomodação não foi grande problema (o GPS ajuda muito nessa tarefa).
Alimentação
Somos meio conservadores nesse quesito... Experiências e ousadias gastronômicas não costumam fazer parte da nossa rotina de viagens. Assim, na realidade, não temos muito o que comentar sobre isso.
Talvez seja útil dizer, entretanto, que achar bons restaurantes nesse nosso roteiro não é exatamente uma tarefa fácil, com raras exceções. Os piores países para comer decentemente são a Venezuela, a Colômbia e o Peru. No Equador é fácil encontrar excelentes opções em Quito; fora isso, o padrão volta ao normal. E Argentina e Chile também são bem “civilizados” nesse aspecto, bastando um pouquinho de discernimento para não entrar em furada.
Por várias vezes optamos por fazer nossa própria comida a procurar restaurantes, e essas ocasiões foram sempre muito divertidas e bem aproveitadas. Era o contra-ponto da situação.
Planejamento
Esse é outro tema que costuma ser meio misterioso. Como disse na primeira postagem do blog (“Prólogo”), acho que é preciso tomar cuidado para essa tarefa não virar uma neurose, um labirinto ou um bicho de sete cabeças.
Penso que o planejamento deve ter medida. E a medida que aprecio para essa questão é aquela que prevê, sobretudo, as condições de realização da ideia, muito mais do que o delineamento da viagem em si. Ou seja, o planejamento deve prever e dar suporte às necessidades, digamos, operacionais da viagem, e não necessariamente detalhes e dados que podem ser (e é até melhor que sejam) “descobertos” durante a viagem.
Seguindo esse conceito, nosso planejamento foi, na realidade, bastante simples: tínhamos o ponto de partida, o ponto de chegada, uma ideia de roteiro a ser seguido (que foi modificado algumas vezes no decorrer da viagem), o tempo máximo que podíamos estar “voando”, os recursos financeiros que imaginamos ser suficientes, a documentação que sabíamos que seria necessária e alguns dados (informações) sobre os países e roteiro a serem percorridos. E é isso.
Fazendo uma auto-crítica sincera, acho que esse esquema de planejamento funcionou bastante bem e atendeu ao que pretendíamos. Sobretudo por ter deixado espaço para a viagem acontecer in loco, o que é o mais legal.
Agradecimentos
Apesar de termos feito a viagem de forma solo - apenas nossa família - , contamos com o apoio de algumas pessoas que muito nos ajudaram nessa empreitada, e a quem gostaríamos de agradecer do fundo do nosso coração:
· Ao Marcelo e à Iorlene, casal de amigos de Boa Vista/RR, que foi como um anjo de inspiração e de incentivo pra gente. Eles fizeram uma viagem bastante parecida com essa (de Boa Vista a Curitiba), de carro, com a filha de cerca de 9 anos de idade, e acompanhados por um outro carro com amigos, no final de 2009 e começo de 2010, e nos passaram valiosas informações e estímulo na fase de planejamento e preparativos da viagem. Apesar de termos nos encontrado poucas vezes em Boa Vista, ficou uma amizade muito espontânea e muito sincera que espero que perdure no tempo. Nosso muito obrigado a vocês.
· Ao meu irmão Gilson, que nos acompanhou o tempo todo através do nosso localizador pessoal SPOT e, com isso, esteve atento à nossa segurança à distância, e esteve pronto e disposto a nos ajudar naquela fase bastante difícil em que a Thaís esteve no hospital em Quito, no Equador. Nosso muito obrigado a você também.
· Aos nossos amigos de Brasília: Silva Pinto e Gilce, pelo apoio, acompanhamento e preocupação constantes, e pela ajuda especial dos contatos e informações levantadas quando da internação da Thaís lá em Quito. Inestimável apoio no momento certo. Nosso muito obrigado a vocês também.
· E a todos que nos acompanharam e torceram para que tudo desse certo, tanto aos que nos mandaram mensagens de incentivo e apoio quanto aos que nos seguiram apenas no silêncio desse nosso mundo virtual, nosso muito obrigado também a vocês.
Força Sempre