Viajar

Estamos de mudança de Boa Vista-RR para Curitiba-PR. Pra aproveitar a oportunidade, resolvemos dar uma olhada no jeitão (antropologia, geografia, fotografia, o olhar das pessoas) dessa nossa América do Sul, fazendo a volta pela costa oeste do continente. Nossa "nave-mãe" nessa jornada será um Suzuki Grand Vitara (ano 2010). Estimamos a viagem em torno de 14 mil km, o que pretendemos percorrer em cerca de 40 dias.

Gostaríamos de compartilhar essa experiência com nossos amigos através deste blog, e, com isso, tornar essa jornada não apenas nossa, mas de todos que nos acompanharem. Convidamos vocês a viajar conosco, e a fazer comentários e sugestões.

Escrever sobre a viagem também nos ajuda a criar uma perspectiva de observadores da nossa própria história, o que é sempre interessante.

Assis, Mari e Thaís.

terça-feira, 14 de junho de 2011

44) Epílogo


            Como era de se esperar, passados mais de dois meses do término da viagem, fomos completamente envolvidos pelas demandas do cotidiano da nova fase – escola, trabalho, casa, tudo novo, tudo exigindo atenção.

            O curioso desse processo é a sensação de realidade e de tempo que envolve nossas vivências. Naqueles dias em que estávamos lá pras bandas do Equador, mais ou menos no meio da viagem, parecia que nunca iríamos chegar, e parecia que estávamos fora havia muito mais tempo do que apenas vinte e poucos dias... Agora aquele tempo denso e intenso parece ter se dissipado na eternidade. Quase como se não tivesse existido.

            O nosso dia-a-dia normal deve ser muito parecido com o de muitas pessoas: horários, compromissos, pequenos afazeres, sempre fazendo muitas coisas diferentes ao mesmo tempo. Uma das riquezas de vivências como a dessa viagem é ser capaz de enxergar esse contexto de uma forma um pouquinho diferenciada: a gente sabe que o mundo não é só aqui onde estamos. De alguma forma toda nossa vida muda um pouquinho de referencial.

            Viajar é um negócio ambíguo. Como tudo na vida, não é de forma alguma uma atividade absoluta. Não acho que seja maravilhoso, onírico, surreal, nem quero deixar aqui essa impressão. Muito pelo contrário: é trabalhoso, é desconfortável (por mais que se procure faze-la confortável), é arriscado, e, se não cuidar, pode facilmente perder o sentido, como tudo que fazemos nesse nosso pequeno mundo. Mas é lógico que, bem vivido, pode também ser quase mágico, altamente transformador, e certamente muito gratificante.

            O bacana de viajar é essa mexida nos nossos sentimentos e nas nossas certezas. É aquela apreensão antes de partir, os sufocos do caminho, as histórias que a gente ouve, e, talvez mais do que tudo, as lembranças que ficam.

            Houve um tempo em que eu tinha um certo conflito com essa questão de apreciar mais as lembranças do que os momentos vividos. Achava que não fazia sentido curtir mais aquelas do que esses. Hoje acho natural que seja assim, afinal as lembranças têm a grande vantagem da certeza de que tudo deu certo, do doce sabor apenas dos momentos bons. A realidade é sempre mais pesada, mais difícil, mais fugidia.

            Gratidão – é o sentimento que tenho, e gostaria de expressar, por ter feito da idéia da viagem, história. Gratidão à vida, aos seres de luz que nos acompanharam, às energias que fluem por esse nosso pequeno cosmo e à minha querida “tripulação”, a quem tudo devo.

            Que possamos sempre ser capazes de ir longe, e permanecer humildes.