17 Jan 11
43º dia
De Quatro Pontes a Curitiba (PR)
Apesar do dia tranqüilo ontem, hoje, particularmente, senti o cansaço acumulado e o desgaste dessa vida de estrada. Mas também não fazia mais muita diferença...
Tocamos o solo em Curitiba às seis da tarde, depois de uma viagem sem nenhuma pressa e com muitas paradas.
Muito bom chegar ao nosso objetivo final, mas, como disse no dia em que chegamos ao Brasil, a sensação de chegada mesmo foi vivenciada naquele dia. A chegada de hoje teve um tom mais de preocupação e de ansiedade pela fase que se inicia em seguida – todo o processo de instalação e de adaptação a uma nova cidade e a novas demandas - do que propriamente de comemoração ou de alívio. É como as coisas são.
Hoje, na estrada, curtindo aquele visual bucólico e aprazível dos campos do Paraná – plantações e araucárias a perder de vista – a Mari comentou que acha mais bonita essa paisagem do que aquela aridez dos desertos do Peru e do Chile. E eu fiquei pensando no quanto de conceito existe nessa nossa sensação do belo...
Talvez o simples fato do contraste e da raridade da oportunidade de estar em contato com certos ambientes nos cause essa sensação de admiração e de perplexidade. Ou será que os povos que vivem nessas áreas desérticas têm a mesma sensação que nós que as vemos pela primeira vez?...
É verdade, os campos verdes e cheios de vida do interior do Paraná são mesmo muito bonitos. Talvez só não sejam mais bonitos por serem tão comuns, de tão fácil acesso, tão próximos do nosso dia-a-dia.
É mais ou menos o que acontece com as Cataratas do Iguaçu. O visual em si é deslumbrante, mas o contexto dos bastidores é artificializado demais. Não tem comparação, por exemplo, com o ambiente do Monte Roraima – totalmente intocado, distante, isolado, difícil.
A sensação de beleza tem diversos componentes. O visual conta muito, mas não é só isso.
Bem, agora então só nos resta voltar lentamente ao mundo cotidiano das obrigações e compromissos da nossa vida urbana de trabalho e estudo. E não vou negar que essa rotina não deixa de ter o seu atrativo.
Mas, hoje, olhamos para um mapa da América do Sul de forma totalmente diferente. Enxergamos e conseguimos entender o que significam aquelas fronteiras, aquelas estradas, aquele escurinho que representa a Cordilheira dos Andes...
E nem tudo fica registrado em fotos. O cheiro gostoso de madeira velha da igreja da praça central de San Pedro de Atacama, o olhar dos meninos vendendo melão à beira da estrada na Argentina, o andar sem pressa das pessoas na pequena praça de um vilarejo no interior da Colômbia, a timidez das crianças pastoreando os rebanhos de ovelhas nas montanhas do Equador, a sensação de desolação e de quietude dos desertos do Peru... Sensações e lembranças que vão ficar ecoando nos nossos dias, em meio aos afazeres e apelos que certamente virão.
É assim. O tempo presente das viagens é apenas uma pequena parte dessas vivências. As lembranças, as fotos, as sensações, são o legado que fica depois, e são imensuráveis.
Força Sempre
P.S: Conforme prometi há alguns dias, assim que conseguir escrever, vou postar um texto com alguns dados práticos e alguns resumos da viagem, que podem, eventualmente, servir a alguém interessado especificamente no tema, assim como as fotos dos últimos dias. Valeu!