04 Jan 11
30º dia
Nazca – Peru
Durante o trekking no Himalaia, no Nepal, em 1996, uma preocupação sempre presente era com relação ao mal da altitude. Os dias de caminhada eram planejados tendo como referência a altitude que se subia, e não o tempo de caminhada ou a distância percorrida. Normalmente subíamos em torno de 500 metros por dia, e tentávamos sempre subir mais alto e descer para dormir numa altitude um pouco mais baixa.
Existe toda uma técnica para tentar aclimatar o organismo ao ganho de altitude, e, em alta montanha, poucos assuntos são mais freqüentes e preocupantes do que esse risco sempre próximo. Há vários estudos médicos sobre o assunto, mas o fato é que não é possível prever como cada pessoa vai se adaptar ao processo de ganho de altitude e à correspondente diminuição do oxigênio. É um negócio meio imprevisível. Às vezes faz-se tudo direitinho, segue-se todos os passos de aclimatação, e, de repente o organismo se desequilibra e começam os problemas.
Ainda sobre a vivência no Himalaia: era comum cruzar com trekkers sendo carregados montanha abaixo, às vezes muito mal, às vezes completamente inconscientes. Não era uma cena auspiciosa.
Saindo hoje de Nazca em direção a uma cidade chamada Abancay, na direção de Cuzco, fomos brindados com um dia inspiradoramente bonito. Mas a estrada ganhou contornos dramáticos logo nos primeiros quilômetros. Curvas, curvas, e mais curvas, e subindo forte e constantemente.
A paisagem, em compensação, era belíssima. Montanhas a perder de vista, encostas altíssimas, silêncio, vento, aspereza.
Exatos cem quilômetros (e duas horas e pouco) depois de sair dos 600 metros de altitude de Nazcar batemos nos 4000 metros de altitude. Logo depois a Thaís acordou sentindo-se mal. Paramos por alguns minutos e depois tentamos continuar.
Num vilarejo próximo conseguimos umas folhas de coca e fizemos um chá. A Thaís tomou um pouco, mas não melhorou. Ainda insistimos por alguns minutos, mas a situação estava clara: era preciso voltar. Ainda faltavam mais de trezentos quilômetros para a cidade com alguma opção de hospedagem à frente, e a estrada continuava num zigue-zague absolutamente insano o tempo todo – dei uma percorrida no GPS e a sequência de curvas era interminável e assustadora. Além disso a altitude continuaria alta, pois estávamos em cima da Cordilheira dos Andes. Andar uma hora, uma hora e pouco num ambiente assim até que é interessante. Mas o dia inteiro...
Então fizemos a volta e retornamos. Chegando a Nazca, cerca de três horas depois, a Thaís já estava melhor, e agora está ótima de novo.
Resolvemos, em função dessa situação, seguir daqui para Arequipa, na direção sul, acompanhando a costa. Lá faremos novo estudo e definição do roteiro a seguir.
As coisas são como são, e não como gostaríamos que fossem.
Soroche é como os peruanos chamam o mal da altitude.
Força Sempre
Observem a altura dessas encostas.
Mãos firmes nos volante e atenção total na estrada.
Sem direito a vacilos.
Nada como um dia depois do outro...
Nenhum comentário:
Postar um comentário