14 Dez 10
9º dia
De Cúcuta a Bucaramanga – Colômbia
O dia hoje começou com um prognóstico sombrio. Amanheceu chovendo e com o céu completamente fechado, carregado. Ao entregar as chaves do quarto na recepção do hotel em que ficamos, perguntei á recepcionista qual a direção de saída para a estrada para Bucaramanga, para onde nos destinávamos. A moça, muito simpática e solícita, explicou-me a direção pedida, e, como informação adicional, sacou um rádio e fez contato direto com a Polícia Rodoviária da estrada a que nos dirigíamos, e me passou que a estrada estava aberta até um povoado a meio caminho do nosso destino, mas além desse ponto não tinha informação. Esclareceu-me ainda que havia muitos deslizamentos na estrada, e que era um caminho “mucho peligroso”. Hummmmmm.... Senti um clima de instabilidade no ar.
Ao pegarmos a estrada a chuva aumentou. Senti uma forte sensação de insegurança e já começava a arquitetar alternativas (sendo que a única razoável era voltar a Cúcuta e esperar a melhora do tempo e a eventual liberação da estrada). Mas fomos tocando.
Aos poucos, incrivelmente, foi parando de chover até que o tempo abriu totalmente e o céu chegou a ficar azul. Então começou a montanha russa. A estrada começou a escalada às alturas e a geografia ganhou contornos dramáticos. Na estrada, trânsito intenso de caminhões e vários trechos com sinais de deslizamentos, árvores e pedras caídas, e pontos com passagem para um só veículo.
Numa seqüência interminável e alucinante de curvas, subimos até os 3200 metros de altitude. A velocidade não passava dos 30, 40 km por hora. A paisagem ficava cada vez mais pitoresca e interessante. Pequenos vilarejos, plantações de batata, caminhões e ônibus típicos e aquele clima de montanha davam o tom do ambiente em que nos encontrávamos.
Senti como se estivéssemos numa janela dimensional, pois a relação tempo versus distância percorrida definitivamente fugia a qualquer lógica razoável. Parecíamos não sair do lugar.
Mas, aos poucos, fomos progredindo. Por volta das onze horas paramos num povoado muito pitoresco. Como um lugar parado no tempo. Demos uma caminhada na praça, observamos o timing do lugar, fizemos um rápido lanche numa panaderia e voltamos à carretera.
Nos últimos 30 km , a estrada desceu dos 3200 para 1000 metros de altitude, num zigue-zague realmente impressionante. No meio da tarde, contrariando a perspectiva do início do dia, e quase oito horas depois de partirmos, chegamos a Bucaramanga e instalamo-nos num hotel.
Nesse trecho da estrada passamos por uns quatro postos policiais e uns dois ou três do exército. Solicitaram que parássemos umas quatro vezes. Pediram os documentos e fizeram algumas perguntas, sempre de forma muito educada e respeitosa. A um dos policiais perguntei a respeito da guerrilha, a que ele me respondeu: “no, no, mui tranqüilo”. Mas vimos uma faixa (que infelizmente não fotografamos) num dos povoados por que passamos, incentivando os guerrilheiros a mudar de vida – alguma coisa como: “guerrilheiro, outra vida é possível – abandone as armas”.
Esse trajeto entre Mérida, na Venezuela, e aqui onde estamos, era dos que mais me preocupava e instigava, pela falta de informações e por passar por uma área muito do interior dos dois países, em plena região amazônica. Agora, de certa forma, estamos numa rota mais central na Colômbia, a Cordillera Oriental, no caminho de Bogotá, a capital, o que, imagino, deve tornar o trajeto um pouco mais civilizado.
Também espero que os próximos dias sejam mais rentáveis em termos de média de velocidade e distâncias percorridas, porque se continuar no ritmo dos últimos dias vamos chegar ao Brasil atrasados para o Carnaval [risos]...
Sempre em frente.
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