Viajar

Estamos de mudança de Boa Vista-RR para Curitiba-PR. Pra aproveitar a oportunidade, resolvemos dar uma olhada no jeitão (antropologia, geografia, fotografia, o olhar das pessoas) dessa nossa América do Sul, fazendo a volta pela costa oeste do continente. Nossa "nave-mãe" nessa jornada será um Suzuki Grand Vitara (ano 2010). Estimamos a viagem em torno de 14 mil km, o que pretendemos percorrer em cerca de 40 dias.

Gostaríamos de compartilhar essa experiência com nossos amigos através deste blog, e, com isso, tornar essa jornada não apenas nossa, mas de todos que nos acompanharem. Convidamos vocês a viajar conosco, e a fazer comentários e sugestões.

Escrever sobre a viagem também nos ajuda a criar uma perspectiva de observadores da nossa própria história, o que é sempre interessante.

Assis, Mari e Thaís.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

17) 21 e 22 Dez 2010 - Perrengue

21 e 22 Dez 10
16º e 17º dias
De Popayan – Colômbia a Tulcán – Equador
58 km + 260 km

            Ontem, dia 21, acordamos às cinco da manhã e resolvemos partir pra “briga” com aquela história do bloqueio na estrada. Configuramos nosso “sistema psicológico” no modo “o que vié nóis traça” e fomos pra estrada.

            Quinze quilômetros depois da saída da cidade já estávamos parados na fila de caminhões e carros. No dia anterior tínhamos ido até o km 38 até encontrar a fila. Sinal de que o problema, em vez de estar diminuindo, estava aumentando. Nada bom. Ficamos cerca de meia hora pensando em alternativas, cronograma, mapa, etc. Aí a fila andou e andou bem. Fomos mais ou menos rápido até o km 35, o que nos deu uma certa esperança de que a situação seria digerível.

            Nesse ponto começou a longa espera. A enorme fila andava muito, mas muito devagar. O tempo foi passando e praticamente não saíamos do lugar. Mas mantivemos nossa determinação em prosseguir e nos engajamos irreversivelmente no combate.

            Compreendemos que a única opção era realmente esperar. Toda aquela gente estava na mesma situação e, de certa forma, isso nos dava certo alento. Apesar de ter chovido toda a noite anterior, nesse dia não estava chovendo, o que também era bom.

            A situação parecia também um pouco mais organizada do que no dia anterior. A Policía Caminera estava sempre presente e atuando firmemente para manter a ordem da fila e evitar que os “espertinhos” passassem à frente.

            Mas, apesar de tudo, por volta das quatro da tarde tínhamos andado só uns dois quilômetros desde as nove da manhã.

Chegamos então a um ponto em que havia uma estradinha de terra e pedra que diziam que cortava o caminho, “mas solo para veículos camperos (4x4)”, diziam os moradores locais. Senti que era encrenca. Além disso, a maioria dos carros da fila não encarou o tal desvio. Resolvemos arriscar. Entramos na tal trilha – que era realmente bem apertada, inclinada, escorregadia e meio temerária, principalmente considerando o contexto, mas passamos bem - e 4 km depois voltamos à estrada principal, ainda no engarrafamento, mas certamente ganhamos um tempo precioso.
Às cinco e meia, pouco antes de escurecer, estávamos a cerca de dois quilômetros do local em que a estrada havia ruído. A Mari foi fazer um reconhecimento no local (andando) e voltou quase uma hora depois eufórica com o quadro de caos que viu. Contou cento e vinte carros e caminões na nossa frente, até o local da passagem.

Já estávamos preparados para passar a noite no carro, pois a notícia que circulava era que quando escurecesse as máquinas parariam de trabalhar e a passagem seria fechada até o dia seguinte.

Acontece que um trecho de aproximadamente cem metros da estrada desapareceu levado pela chuva. A operação de emergência do governo montou um esquema em que as máquinas trabalhavam cerca de uma hora colocando terra e pedra nesse trecho e então liberavam para o trânsito. Como havia muitos caminhões e carretas pesadas passando, rapidamente o conserto improvisado se deteriorava, e então interrompiam novamente o trânsito e entravam as máquinas.

Para nossa sorte, a fila continuo andando, ainda que vagarosamente, mesmo após anoitecer, e às nove e quarenta da noite passamos pelo fatídico trecho do desmoronamento – cenário realmente assustador e trágico. Mas o congestionamento continuou do outro lado até por volta da meia noite. Só então começou a voltar ao normal.

Nessas longas horas de espera acabamos fazendo amizade com dois senhores, colombianos, moradores das cidades próximas, que estavam um pouco atrás de onde estávamos na fila. Tivemos ótimas conversas sobre a situação do país, a guerrilha, a questão da segurança pública e outros assuntos. Os dois são irmãos, estavam cada um no seu carro, indo para cidades diferentes e nos deram uma grande ajuda e apoio. Seguimos com eles, em comboio, após passar pelo ponto do desmoronamento até por volta de uma e meia da madrugada, quando eles nos deixaram numa pousada na beira da estrada e seguiram viagem até um pouco mais à frente.

Hoje, dia 22, saímos por volta das nove e meia da manhã e prosseguimos nosso caminho. Aliás, belo caminho. Altas montanhas, altas encostas e a estrada desafiando a geografia...

Chegamos às três e meia da tarde a Ipiales, a cidade colombiana da fronteira com o Equador. Liguei para o senhor Gabriel, um dos irmãos que nos acompanhou na noite anterior e que mora nessa cidade e rapidamente ele veio nos encontrar para nos acompanhar nos procedimentos da aduana – gentileza que ele fez questão de fazer e que não tive como recusar.

Pouco antes da aduana encontramos novamente os nossos amigos brasileiros de Nova Iorque. Mas só uma parte do grupo deles. Um dos carros, a pick-up, havia ficado para trás no congestionamento e ainda não havia chegado. E eles estavam sem contato e sem saber onde os companheiros estavam... Contamos a eles que na noite anterior, quando a Mari saiu para fazer aquele reconhecimento, cruzou com eles cem carros à nossa frente na fila. Ou seja, teoricamente já era para eles terem chegado. Mas, apesar do desencontro, os quatro com quem falamos estavam bem e otimistas que em breve os outros dois chegariam.

Partimos então para a aduana e, apesar de já ser um pouco tarde para dar início a esse tipo de tarefa, incrivelmente em cerca de duas horas conseguimos resolver todos os carimbos, assinaturas e verificações necessárias e estamos liberados para rodar pelo Equador.

Instalamo-nos num hotelzinho na cidade equatoriana próxima à fronteira e amanhã a idéia é seguir até Quito, a capital, aonde pretendemos passar o Natal.

Então está encerrada a etapa Colômbia da viagem. E deu trabalho essa fase! O prognóstico para o Equador é bem melhor do que o do país que acabamos de passar, principalmente em termos de segurança, mas também (e espero que isso se confirme) nos quesitos estrada e beleza natural. Vamos ver.

Minha tripulação está ótima e agüentou o tranco do perrengue de ontem de forma admirável. Brincando, fazendo graça, puxando conversa com as pessoas, e até fazendo miojo dentro do carro! Uma beleza [risos]. Mari e Thaís ficaram até um pouco decepcionadas por não termos passado a noite no carro, tão preparadas e animadas estavam para a aventura.

Força Sempre




 Na fila.



 Longa espera.



 Mari expandindo os limites do improviso.



 Thaís estudando geografia in loco.



 Na trilha que nos encurtou um bom caminho.



 De noite, assistindo a um filmizinho.



 Outros "derrumbes" na estrada.







 Jeito colombiano de andar de ônibus.



 Misto de caminhão com ônibus.



 O encontro com os nossos compatriotas de Nova Iorque, na fronteira com o Equador.








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