Viajar

Estamos de mudança de Boa Vista-RR para Curitiba-PR. Pra aproveitar a oportunidade, resolvemos dar uma olhada no jeitão (antropologia, geografia, fotografia, o olhar das pessoas) dessa nossa América do Sul, fazendo a volta pela costa oeste do continente. Nossa "nave-mãe" nessa jornada será um Suzuki Grand Vitara (ano 2010). Estimamos a viagem em torno de 14 mil km, o que pretendemos percorrer em cerca de 40 dias.

Gostaríamos de compartilhar essa experiência com nossos amigos através deste blog, e, com isso, tornar essa jornada não apenas nossa, mas de todos que nos acompanharem. Convidamos vocês a viajar conosco, e a fazer comentários e sugestões.

Escrever sobre a viagem também nos ajuda a criar uma perspectiva de observadores da nossa própria história, o que é sempre interessante.

Assis, Mari e Thaís.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

3) 07 Dez 2010 - Quem disse que ia ser fácil?

07 Dez 10
2º dia
De Santa Elena de Uairen a Tumaremo – Venezuela
435 km

            Dia de alta tensão hoje! De manhã saímos à busca de resolver os trâmites de regularização da entrada do carro na Venezuela, de trocar reais por bolívares e outros pequenos ajustes. Tudo foi se resolvendo, mas não de forma rápida. Gastamos quase uma hora na seguradora e quase uma hora e meia na aduana. Só conseguimos ficar com tudo em ordem por volta das onze e meia. Aí resolvemos ficar um pouco mais e aproveitar pra almoçar um arroz com feijão num restaurante à la brasileira lá em Santa Elena. Saímos à uma da tarde.

            As duas primeiras horas até que renderam bem. Mas logo depois caiu outra tempestade daquelas e choveu forte por uma hora e meia. Céu escuro, visibilidade muito reduzida, e o nível de controle da situação e de segurança muito abaixo do meu mínimo. Foram uns noventa minutos dirigindo a sessenta por hora, numa estrada de pista simples, sem acostamento, com muitos galhos de árvores caídos nas laterais e enxergando quase nada. Como diz o ditado, “rapadura é doce, mas não é mole, não”.

            Às quatro e meia da tarde já estava escurecendo e o mundo todo estava meio fora de foco... Às cinco e meia estava completamente escuro. Chegamos a uma cidadezinha chamada El Dorado, aonde pretendíamos pernoitar. Porém a tal localidade era um autêntico fim de mundo. Paramos no único hotel que achamos. Pelo aspecto sacamos que estávamos enrascados. A Mari foi fazer um reconhecimento e voltou assustada. Hummmmm!!... Muita calma nessa hora! Consultei o meu oráculo interno e resolvi que era melhor voltar à estrada e enfrentar mais 70 km sob chuva, no escuro, numa estrada no meio do nada, até a próxima cidade que poderia ser um pouco melhor do que aquele pulgueiro.

            Decisão acertada. A chuva deu uma trégua. Percorremos esse trecho sem maiores problemas e a cidade a que chegamos às dezenove horas, e onde estamos, tinha um hotelzinho decente, onde nos hospedamos felizes da vida. Saímos pra comer uma pizza e agora o negócio é pensar no dia de amanhã.

            Comparando a viagem com uma corridinha dessas que fazemos de vez em quando, diria que ainda estamos no aquecimento. E o aquecimento é sempre meio difícil, a gente tem a tendência a ficar se perguntando sempre se não teria sido melhor ter ficado em casa dando água pras plantas... Daqui a pouco o sangue irriga os músculos, o organismo solta aquela endorfina e tudo flui melhor. Pelo menos é o que espero.

            A paisagem hoje começou soberba, com o trecho logo após Santa Elena. É a chamada Gran Sabana. Uns 150 km de campos suavemente ondulados, ponteados por buritizais, horizontes longínquos, ornamentados ainda mais ao longe pelos tepuis típicos da região. Aqui e acolá algumas tribos indígenas, rios, cachoeiras e aquele clima bucólico tão agradável. Depois veio um trecho de serra com muitas curvas e vegetação muito fechada. Mata nativa, verde escuro, com aspecto bem menos confortante. Mas a plasticidade da paisagem toda hoje ficou meio comprometida por conta do céu cinzento e da chuva agressiva que insistiu em cair quase a tarde inteira. E não adianta: me parece que o clima, e a sua correspondente luminosidade, faz parte de forma indissociável da paisagem.

            E a nossa América do Sul por essas bandas tem um perfil nada animador. Povoados mal cuidados, sujos, com carros caindo aos pedaços e aquele aspecto nada confiável.

            Pesquisando sobre a viagem, levantamos que a Venezuela, particularmente essa região em que nos encontramos, talvez seja a região mais arriscada do ponto de vista de segurança pública. Realmente tudo aqui é meio estilo farwest, terra de ninguém, fim de mundo.

            Passamos por uns quatro ou cinco postos de controle do exército venezuelano na estrada. O que eles chamam de alcabalas. Todos nos mandaram parar, conferiram passaporte, autorização do carro, perguntas, aquele olhar desconfiado e um ar meio arrogante típico dos venezuelanos. Mas nada disso é surpresa. Já era mais ou menos do nosso conhecimento.

            O recepcionista do hotel em que estamos nos alertou, na nossa chegada, que as chuvas estão muito intensas e causando muitos estragos em todo o país. Pois é... Isso me faz lembrar a nossa viagem de bicicleta entre Lisboa e Madri, em 2001, quando também o mundo estava se desfazendo em água e todos que cruzavam conosco nos alertavam com relação às chuvas. E naquela ocasião estávamos de bicicleta, em pleno inverno europeu...

Sempre em frente.



Aduana de entrada na Venezuela.




Thaís na aduana de entrada na Venezuela.



Trocando dinheiro em Santa Elena: no meio da rua, "la garantia soy yo".



Tempo fechado e muita chuva: começo difícil.



A Mari e sua alegria mesmo debaixo de chuva.



O Grand Vitara na estrada: cumprindo missão.

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