07 Dez 10
2º dia
De Santa Elena de Uairen a Tumaremo – Venezuela
Dia de alta tensão hoje! De manhã saímos à busca de resolver os trâmites de regularização da entrada do carro na Venezuela, de trocar reais por bolívares e outros pequenos ajustes. Tudo foi se resolvendo, mas não de forma rápida. Gastamos quase uma hora na seguradora e quase uma hora e meia na aduana. Só conseguimos ficar com tudo em ordem por volta das onze e meia. Aí resolvemos ficar um pouco mais e aproveitar pra almoçar um arroz com feijão num restaurante à la brasileira lá em Santa Elena. Saímos à uma da tarde.
As duas primeiras horas até que renderam bem. Mas logo depois caiu outra tempestade daquelas e choveu forte por uma hora e meia. Céu escuro, visibilidade muito reduzida, e o nível de controle da situação e de segurança muito abaixo do meu mínimo. Foram uns noventa minutos dirigindo a sessenta por hora, numa estrada de pista simples, sem acostamento, com muitos galhos de árvores caídos nas laterais e enxergando quase nada. Como diz o ditado, “rapadura é doce, mas não é mole, não”.
Às quatro e meia da tarde já estava escurecendo e o mundo todo estava meio fora de foco... Às cinco e meia estava completamente escuro. Chegamos a uma cidadezinha chamada El Dorado, aonde pretendíamos pernoitar. Porém a tal localidade era um autêntico fim de mundo. Paramos no único hotel que achamos. Pelo aspecto sacamos que estávamos enrascados. A Mari foi fazer um reconhecimento e voltou assustada. Hummmmm!!... Muita calma nessa hora! Consultei o meu oráculo interno e resolvi que era melhor voltar à estrada e enfrentar mais 70 km sob chuva, no escuro, numa estrada no meio do nada, até a próxima cidade que poderia ser um pouco melhor do que aquele pulgueiro.
Decisão acertada. A chuva deu uma trégua. Percorremos esse trecho sem maiores problemas e a cidade a que chegamos às dezenove horas, e onde estamos, tinha um hotelzinho decente, onde nos hospedamos felizes da vida. Saímos pra comer uma pizza e agora o negócio é pensar no dia de amanhã.
Comparando a viagem com uma corridinha dessas que fazemos de vez em quando, diria que ainda estamos no aquecimento. E o aquecimento é sempre meio difícil, a gente tem a tendência a ficar se perguntando sempre se não teria sido melhor ter ficado em casa dando água pras plantas... Daqui a pouco o sangue irriga os músculos, o organismo solta aquela endorfina e tudo flui melhor. Pelo menos é o que espero.
A paisagem hoje começou soberba, com o trecho logo após Santa Elena. É a chamada Gran Sabana. Uns 150 km de campos suavemente ondulados, ponteados por buritizais, horizontes longínquos, ornamentados ainda mais ao longe pelos tepuis típicos da região. Aqui e acolá algumas tribos indígenas, rios, cachoeiras e aquele clima bucólico tão agradável. Depois veio um trecho de serra com muitas curvas e vegetação muito fechada. Mata nativa, verde escuro, com aspecto bem menos confortante. Mas a plasticidade da paisagem toda hoje ficou meio comprometida por conta do céu cinzento e da chuva agressiva que insistiu em cair quase a tarde inteira. E não adianta: me parece que o clima, e a sua correspondente luminosidade, faz parte de forma indissociável da paisagem.
E a nossa América do Sul por essas bandas tem um perfil nada animador. Povoados mal cuidados, sujos, com carros caindo aos pedaços e aquele aspecto nada confiável.
Pesquisando sobre a viagem, levantamos que a Venezuela, particularmente essa região em que nos encontramos, talvez seja a região mais arriscada do ponto de vista de segurança pública. Realmente tudo aqui é meio estilo farwest, terra de ninguém, fim de mundo.
Passamos por uns quatro ou cinco postos de controle do exército venezuelano na estrada. O que eles chamam de alcabalas. Todos nos mandaram parar, conferiram passaporte, autorização do carro, perguntas, aquele olhar desconfiado e um ar meio arrogante típico dos venezuelanos. Mas nada disso é surpresa. Já era mais ou menos do nosso conhecimento.
O recepcionista do hotel em que estamos nos alertou, na nossa chegada, que as chuvas estão muito intensas e causando muitos estragos em todo o país. Pois é... Isso me faz lembrar a nossa viagem de bicicleta entre Lisboa e Madri, em 2001, quando também o mundo estava se desfazendo em água e todos que cruzavam conosco nos alertavam com relação às chuvas. E naquela ocasião estávamos de bicicleta, em pleno inverno europeu...
Sempre em frente.
Aduana de entrada na Venezuela.
Thaís na aduana de entrada na Venezuela.
Trocando dinheiro em Santa Elena: no meio da rua, "la garantia soy yo".
Tempo fechado e muita chuva: começo difícil.
A Mari e sua alegria mesmo debaixo de chuva.
O Grand Vitara na estrada: cumprindo missão.
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