17 Dez 10
12º dia
De Bogotá a Armênia – Colômbia
Eu, que achava que tinha visto o lado radical da Colômbia no trecho entre Cúcuta e Bucaramanga, tive que rever as minhas avaliações hoje.
A gente tenta manter o contexto da viagem dentro de um parâmetro de normalidade, de segurança, e, se possível, de curtição, mas nem sempre dá. O final do dia hoje foi bem intenso. Às quatro e meia da tarde estávamos a vinte quilômetros da cidade aonde pretendíamos pernoitar, começando a descer uma serra gigantesca, quando o trânsito parou. Em seguida começou a chover. Quarenta minutos depois começou a andar a passos de tartaruga. Às cinco e meia já estava escuro, a chuva aumentou, a fila de caminhões e carros descendo a serra andava devagar quase parando. Obras na pista e neblina completavam o quadro sombrio. Continuamos no fluxo, devagar, e acabamos chegando na cidade por volta das sete da noite, e totalmente por acaso achamos um ótimo hotel (ufa!).
Antes disso o dia foi igualmente intenso. Levamos duas horas pra sair da zona urbana de Botogá. Quando alcançamos a estrada, ela estava interditada não sabemos por que motivo. Fomos orientados a pegar uma estrada secundária. Estradinha travada, travada, travada! Estreita, cortando uma série de pequenos povoados, e despencando morro abaixo: dos 2600 metros de Bogotá aos 300 metros em meros 80 km . Lógico que também era muito bonita e pitoresca. Altas paisagens. Mas ao meio dia só tínhamos feito 104 km !!!
À tarde continuou a montanha russa: a estrada escalou até os 3120 metros de altitude, numa geografia dramática e fascinante. Encostas altamente inclinadas, bastante vegetação, e uma estrada abusada, apinhada nas encostas e zigue-zaguendo montanha acima. Tudo isso misturado a um trânsito nervoso de caminhões e carros.
Nas curvas mais fechadas (ou seja: todas) as enormes carretas invadem inescrupulosamente a faixa oposta pra conseguir fazer o giro. E quem vem nesse sentido oposto que se vire pra desviar. Quando é um carro até que não é muito problema. Cada um se espreme pra um lado e dá-se um jeito. Mas quando duas carretas se encontram nessas curvas aí é encrenca. Tem até manobrista em algumas curvas! É realmente incrível.
Neste momento, quase dez da noite, a chuva continua intensa e os telejornais locais noticiam as inundações e os estragos da chuva em várias áreas do país... E nós estamos aqui novamente lidando com a incerteza de poder prosseguir.
Definitivamente o ritmo da viagem por essa bandas é fora de qualquer parâmetro. Hoje levamos praticamente dez horas pra fazer meros trezentos quilômetros!! E dá-lhe braço e atenção na estrada!
Em compensação, achamos o jeito da Thaís se sentir bem com tantas curvas. Um comprimidinho, chamado aqui de Mareol, semelhante ao nosso Dramin. Um recepcionista de um hotel desses que nos recomendou. Hoje foi o teste cabal. Incrível e felizmente ela se sentiu bem o dia todo.
E o astral da Mari e da Thaís continua ótimo, mesmo sob condições adversas. Muito bacana.
No meio desse final de tarde tumultuado de hoje, naquela serra de tons assustadores, estava a observar aqueles homens trabalhando na manutenção da estrada – carregando pedra, virando massa, operando tratores e guindastes, pendurados naquelas ribanceiras, sob chuva, frio, neblina, iluminados pelos faróis das máquinas... E me bateu um sentimento de respeito e ao mesmo tempo de pena daquela gente. Vidas nada fáceis por esse nosso grande-pequeno mundo.
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