Viajar

Estamos de mudança de Boa Vista-RR para Curitiba-PR. Pra aproveitar a oportunidade, resolvemos dar uma olhada no jeitão (antropologia, geografia, fotografia, o olhar das pessoas) dessa nossa América do Sul, fazendo a volta pela costa oeste do continente. Nossa "nave-mãe" nessa jornada será um Suzuki Grand Vitara (ano 2010). Estimamos a viagem em torno de 14 mil km, o que pretendemos percorrer em cerca de 40 dias.

Gostaríamos de compartilhar essa experiência com nossos amigos através deste blog, e, com isso, tornar essa jornada não apenas nossa, mas de todos que nos acompanharem. Convidamos vocês a viajar conosco, e a fazer comentários e sugestões.

Escrever sobre a viagem também nos ajuda a criar uma perspectiva de observadores da nossa própria história, o que é sempre interessante.

Assis, Mari e Thaís.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

13) 17 Dez 2010 - Cordillera Central

17 Dez 10
12º dia
De Bogotá a Armênia – Colômbia
294 km

            Eu, que achava que tinha visto o lado radical da Colômbia no trecho entre Cúcuta e Bucaramanga, tive que rever as minhas avaliações hoje.

            A gente tenta manter o contexto da viagem dentro de um parâmetro de normalidade, de segurança, e, se possível, de curtição, mas nem sempre dá. O final do dia hoje foi bem intenso. Às quatro e meia da tarde estávamos a vinte quilômetros da cidade aonde pretendíamos pernoitar, começando a descer uma serra gigantesca, quando o trânsito parou. Em seguida começou a chover. Quarenta minutos depois começou a andar a passos de tartaruga. Às cinco e meia já estava escuro, a chuva aumentou, a fila de caminhões e carros descendo a serra andava devagar quase parando. Obras na pista e neblina completavam o quadro sombrio. Continuamos no fluxo, devagar, e acabamos chegando na cidade por volta das sete da noite, e totalmente por acaso achamos um ótimo hotel (ufa!).

            Antes disso o dia foi igualmente intenso. Levamos duas horas pra sair da zona urbana de Botogá. Quando alcançamos a estrada, ela estava interditada não sabemos por que motivo. Fomos orientados a pegar uma estrada secundária. Estradinha travada, travada, travada! Estreita, cortando uma série de pequenos povoados, e despencando morro abaixo: dos 2600 metros de Bogotá aos 300 metros em meros 80 km. Lógico que também era muito bonita e pitoresca. Altas paisagens. Mas ao meio dia só tínhamos feito 104 km!!!

            À tarde continuou a montanha russa: a estrada escalou até os 3120 metros de altitude, numa geografia dramática e fascinante. Encostas altamente inclinadas, bastante vegetação, e uma estrada abusada, apinhada nas encostas e zigue-zaguendo montanha acima. Tudo isso misturado a um trânsito nervoso de caminhões e carros.

            Nas curvas mais fechadas (ou seja: todas) as enormes carretas invadem inescrupulosamente a faixa oposta pra conseguir fazer o giro. E quem vem nesse sentido oposto que se vire pra desviar. Quando é um carro até que não é muito problema. Cada um se espreme pra um lado e dá-se um jeito. Mas quando duas carretas se encontram nessas curvas aí é encrenca. Tem até manobrista em algumas curvas! É realmente incrível.
            Neste momento, quase dez da noite, a chuva continua intensa e os telejornais locais noticiam as inundações e os estragos da chuva em várias áreas do país... E nós estamos aqui novamente lidando com a incerteza de poder prosseguir.

            Definitivamente o ritmo da viagem por essa bandas é fora de qualquer parâmetro. Hoje levamos praticamente dez horas pra fazer meros trezentos quilômetros!! E dá-lhe braço e atenção na estrada!

            Em compensação, achamos o jeito da Thaís se sentir bem com tantas curvas. Um comprimidinho, chamado aqui de Mareol, semelhante ao nosso Dramin. Um recepcionista de um hotel desses que nos recomendou. Hoje foi o teste cabal. Incrível e felizmente ela se sentiu bem o dia todo.

E o astral da Mari e da Thaís continua ótimo, mesmo sob condições adversas. Muito bacana.

No meio desse final de tarde tumultuado de hoje, naquela serra de tons assustadores, estava a observar aqueles homens trabalhando na manutenção da estrada – carregando pedra, virando massa, operando tratores e guindastes, pendurados naquelas ribanceiras, sob chuva, frio, neblina, iluminados pelos faróis das máquinas... E me bateu um sentimento de respeito e ao mesmo tempo de pena daquela gente. Vidas nada fáceis por esse nosso grande-pequeno mundo.
           
Força sempre.



Salto de Tequendama, próximo a Bogotá.



 Salto de Tequendama.








Placa de advertência comum nas estradas da Colômbia.















Casamata de um posto de controle do exército na estrada.




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