Viajar

Estamos de mudança de Boa Vista-RR para Curitiba-PR. Pra aproveitar a oportunidade, resolvemos dar uma olhada no jeitão (antropologia, geografia, fotografia, o olhar das pessoas) dessa nossa América do Sul, fazendo a volta pela costa oeste do continente. Nossa "nave-mãe" nessa jornada será um Suzuki Grand Vitara (ano 2010). Estimamos a viagem em torno de 14 mil km, o que pretendemos percorrer em cerca de 40 dias.

Gostaríamos de compartilhar essa experiência com nossos amigos através deste blog, e, com isso, tornar essa jornada não apenas nossa, mas de todos que nos acompanharem. Convidamos vocês a viajar conosco, e a fazer comentários e sugestões.

Escrever sobre a viagem também nos ajuda a criar uma perspectiva de observadores da nossa própria história, o que é sempre interessante.

Assis, Mari e Thaís.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

16) 20 Dez 2010 - Fair play

20 Dez 10
15º dia
Popayan – Colômbia

            Situação de crise por aqui. A estrada continua bloqueada e parece que o problema é um pouco mais sério que um deslizamento. Pelo que soubemos, o que houve, na realidade, foi que um pedaço da estrada desabou.

            De manhã, seguindo a regra de ir ver, ao invés de ouvir falar, desenganchamos do hotel e fomos pra estrada. Chegamos no ponto da paralisação por volta das nove e meia. Às três da tarde havíamos andado três quilômetros.

Situação quase caótica na estrada. Muitos, muitos caminhões, vários carros, um monte de motos pequenas, estrada estreita, chovendo, céu cinzento e informações contraditórias. Entretanto, a policía caminera estava presente e fazendo o possível para manter a ordem. Aliás, em toda a Colômbia vê-se a forte presença da Polícia e do Exército nas ruas e estradas.

Às quatro e meia a organização das filas, que estava sendo mantida sob forte atuação da Polícia, começou a degringolar, e o negócio começou a virar bagunça. Hummmm... As minhas ‘anteninhas internas’ acenderam a luz vermelha. Fizemos a volta e retornamos a Popayan. Afinal, não estamos numa competição nem numa viagem de fim de semana.

Pelo que percebemos, e pelo que ouvimos no local, estão passando poucos carros por vez, e apenas em um sentido. Parece também que estão trabalhando para fazer uma obra de emergência, mas não se sabe ao certo quando o tráfego será normalizado.

Estamos em dúvida se tentamos amanhã novamente ou se esperamos mais um dia. Vamos ver.




Hoje de manhã, na saída do hotel, tivemos um encontro muito interessante com um grupo de viajantes brasileiros – seis amigos - que está vindo dos Estados Unidos em duas motos custom (uma Harley e uma Shadow), uma pick-up com reboque e um jipe com reboque. Nesses reboques tinham mais umas duas motos trail, mountain bikes, e outros equipamentos acessórios. Tá vendo? Quando a gente começa a pensar que está inventando encrenca demais, aparece alguém muito mais capaz de inventar histórias complicadas [risos]...

Estão na estrada há um mês, e queriam ter chegado ao Brasil ontem, ou seja, estão bem atrasados em relação ao seu planejamento.

Disseram-me que são trabalhadores da construção civil de Nova Iorque, e estão indo para o Brasil – sul de Minas Gerais – ali pelo interior do Peru, entrando pelo Acre. Disseram ainda que tiveram um grande atraso (12 dias) na travessia do Panamá para a Colômbia, onde os carros e motos tiveram que ser embarcados em navio.

Falaram também que tiveram muitos problemas e aborrecimentos nas fronteiras e com a Polícia da América Central, em virtude de terem placas americanas nos carros e motos (e também por estarem transportando muita tralha). É o anti-americanismo em ação.

A propósito vale dizer que quando a Polícia nos pára por aqui e dizemos que somos do Brasil, sentimos de imediato, via de regra, uma boa vontade por parte dos policiais. É interessante como o Brasil realmente goza de uma boa reputação internacional em termos de relacionamento e receptividade – pode-se dizer que praticamente em qualquer lugar do mundo. E muito desse perfil deve-se certamente ao nosso magnânimo futebol.

Os nossos compatriotas tinham um jeitão bem despojado e aquele ar meio cansado de quem está na estrada há muito tempo. Partiram um pouco antes de nós e voltamos a cruzar com eles na fila da estrada. Estavam “encalacrados” entre os caminhões. Boa viagem pra eles!

















O ânimo da nossa ‘equipe’ se abalou um pouco hoje com esse novo revés na tentativa de passar esse ponto de bloqueio, mas nada que uma boa noite de sono não dê um jeito.

Hora de ter um pouquinho de fair play.


Força Sempre

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