Viajar

Estamos de mudança de Boa Vista-RR para Curitiba-PR. Pra aproveitar a oportunidade, resolvemos dar uma olhada no jeitão (antropologia, geografia, fotografia, o olhar das pessoas) dessa nossa América do Sul, fazendo a volta pela costa oeste do continente. Nossa "nave-mãe" nessa jornada será um Suzuki Grand Vitara (ano 2010). Estimamos a viagem em torno de 14 mil km, o que pretendemos percorrer em cerca de 40 dias.

Gostaríamos de compartilhar essa experiência com nossos amigos através deste blog, e, com isso, tornar essa jornada não apenas nossa, mas de todos que nos acompanharem. Convidamos vocês a viajar conosco, e a fazer comentários e sugestões.

Escrever sobre a viagem também nos ajuda a criar uma perspectiva de observadores da nossa própria história, o que é sempre interessante.

Assis, Mari e Thaís.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

2) 06 Dez 2010 - Partida

06 Dez 10
1º dia
De Boa Vista (Brasil) a Santa Elena de Uairen – Venezuela
243 km

            Às duas horas da tarde de hoje, saindo de Boa Vista, após os últimos dois anos de nossa vida passados ali, e após pelo menos cinco dias completamente absorvidos por tarefas administrativas e preocupações de toda ordem, e meio consternados pelas várias despedidas de amigos nos últimos dias, estávamos como que anestesiados pela intensidade dos sentimentos e da demanda de coordenações e detalhes a serem gerenciados. Isso quer dizer que quase não conseguimos ter noção do tamanho e da complexidade da viagem que estávamos iniciando. Ou seja, não deu pra cair a ficha.

            De Boa Vista a Santa Elena de Uairen, onde estamos, viemos rápido, sem paradas, com a intenção de chegar à fronteira em tempo de fazer os procedimentos aduaneiros previstos. Chegamos em Pacaraima, a cidade brasileira da fronteira, às quatro e meia. Demos a saída do Brasil e a entrada na Venezuela sem problemas, mas na hora de regularizar a entrada do carro a coisa enrolou. É preciso fazer um seguro contra terceiros antes da entrada na fronteira, mas o tal seguro só pode ser contratado na cidade onde estamos, que fica a uns 25 km da aduana. Ou seja, era preciso vir na cidade, preencher uma papelada, e retornar à aduana, que fechava às 18 horas.

            No caminho para a cidade a chuvinha que estava caindo se transformou numa tempestade de gente grande, com céu cinza chumbo, relâmpagos, trovões, visibilidade péssima e aquele clima de fim de mundo. Rapidamente escureceu e abortamos a idéia de procurar o tal seguro e buscamos um hotel, o qual encontramos às escuras, pois a energia elétrica também havia caído em toda a cidade. Um ligeiro momento de caos e alto nível de tensão (“bom para um primeiro dia”).

            Mas aos poucos a tempestade passou, a luz voltou e as coisas foram voltando à normalidade. Saímos para fazer um lanche e encontramos, não sem  certa dificuldade, uma pizzaria até ajeitadinha e acalmamos a fome que já estava incomodando.

            Nesses dois anos que moramos em Boa Vista estivemos aqui em Santa Elena umas três ou quatro vezes. Por isso o local não nos é totalmente estranho. È uma cidadezinha sem grandes atrativos. Tem algumas agências de turismo de aventura até bem estruturadas (trekking – Monte Roraima e outros -, rafting, passeios off Road, etc), um comércio de bugigangas também bem agitado e aquele clima de clandestinidade misturado a uma certa ilegalidade típico das fronteiras latinas.

            Pra amanhã a idéia é ir até Ciudad Bolívar, ou Ciudad Guayana (um pouco aquém da primeira), dependendo do rendimento do dia. De manhã temos que desenrolar essa história da regularização do carro pra rodar na Venezuela e depois partir.
            Em 1996, quando estive no Nepal, fiz uma clínica de caiaque, na qual descemos um rio cheio de corredeiras por três dias. Uma percepção que me marcou é a de que quando se entrava na corredeira não tinha como voltar. Guardadas as proporções, estou com uma sensação semelhante neste momento.

            Na postagem anterior eu disse que percorrer grandes distâncias, fazer uma grande viagem, é encantador. Deveria ter sido mais preciso e dito que a idéia de fazer uma grande viagem é encantadora. Já a realidade... Bem, a realidade tem essa mania chata de querer ser menos romântica do que a idéia que a gerou. O desafio, e o divertido, é conseguir aproximar essas duas vertentes – fazer a realidade o mais próximo possível da idéia.

Sempre em frente.


Despedida do irmão da Mari e sua família, em Boa Vista.




 Mari contente da vida por termos partido.



 Partida: alegria e tristeza...



 BR 174: de Boa Vista a Pacaraima.



Fronteria Brasil-Venezuela.



 Entrando da República Bolivariana da Venezuela (sob chuva).


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